segunda-feira, 29 de agosto de 2011

BA: Mais de 100 registros por mês de assaltos a ônibus em Salvado

Para alcançar a glória e a imortalidade, o herói da mitologia grega Hércules foi obrigado pelos deuses a cumprir 12 trabalhos. Entre eles, matar um javali, capturar um touro e até limpar uma estrebaria. Os usuários do sistema de ônibus de Salvador têm um pouco de Hércules. Eles cumprem diariamente uma penitência: esperam nos pontos, se espremem nos veículos e suam feito cuscuz. A diferença é que, após a aventura hercúlea, o prêmio é a sorte de chegar ao destino em segurança.

Cerca de 100 ônibus são assaltados por mês em Salvador - mais de 3 ao dia. De acordo com boletins diários divulgados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) entre janeiro deste ano e a última quinta-feira, 11 de agosto, 684 assaltos foram registrados pela polícia. E os registros mostram que a violência tem aumentado ao longo do ano. Se em fevereiro a polícia registrou 60 assaltos em coletivos em seu boletim diário, em julho foram 124 - mais do que o dobro. Nos balanços mensais, também divulgados no site da SSP, há ainda mais roubos: 653 de janeiro a junho.

Contudo, para o titular da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos, responsável pelo Grupo Especial de Repressão a Roubos em Coletivos (Gerrc), delegado Nilton Tormes, a realidade é mais dura. “Acredito que há uma subnotificação. Algumas pessoas têm compromissos e não vêm à delegacia”, argumentou. A média dos valores roubados é de R$ 96,20. O maior roubo foi de R$ 873.

Linhas
De acordo com os boletins da SSP, as linhas mais perigosas são as que trafegam por São Caetano, pela BR-324, Avenida Paralela, Itapuã, Rio Vermelho, Iguatemi e Pituba. Até a última quinta-feira, 61 assaltos em coletivos foram realizados em São Caetano. O bairro sofre por haver criminosos atuando na área e devido à geografia. “As quebradas de lá têm muitos becos e escadarias”, explicou.

‘Quer morrer?’ Relatos de assaltos existem aos montes. Momentos de terror, como os que foram vividos pelo cobrador de ônibus da empresa BTU, Adenilson Pereira dos Santos, vítima dos bandidos quatro vezes. “Ainda tentei enfrentar achando que não estavam armados, mas um deles me perguntou se eu queria morrer e me mostrou a pistola”, disse Adenilson, que roda na linha Pirajá/Mata Escura. Depois de recolherem todo o dinheiro, os bandidos ainda agrediram o motorista.

Há 20 anos trabalhando como condutor, Osvaldino dos Santos Carvalho, que hoje roda na linha Estação Pirajá/Barra 3, foi um dos alvos de bandidos em Castelo Branco. “Três homens pararam na frente do ônibus e pediram para eu descer. Um deles ficou com um 38 apontado para minha cabeça”. O diretor de comunicação do Sindicato dos Rodoviários do Estado da Bahia, Francisco Costa, afirmou que o medo é coletivo. “A categoria não tem segurança e ainda tem os valores roubados descontados no salário”, denuncia.

Ônibus vazios à noite são alvos
Se à noite todos os gatos são pardos, na escuridão os ladrões de ônibus são mais ariscos. Eles preferem atacar à noite ônibus com menor número de passageiros. Além de ser mais fácil fugir na escuridão, há menos gente na rua. Os veículos mais vazios são mais interessantes para evitar que os passageiros tentem alguma reação. Os ladrões não costumam assaltar nas áreas onde vivem nem formam quadrilhas fixas. Muitos grupos se desfazem após o crime. A ação é rápida e acontece entre dois pontos. Para não atrair suspeitas, alguns usam uniformes escolares. Os passageiros não devem reagir.


Valores são normalmente muito baixos
Os ladrões não costumam levar grandes quantias nos assaltos em ônibus. De acordo com os boletins diários da SSP, a média é de R$ 96,20. O prejuízo das empresas não é maior porque elas recolhem o dinheiro dos cobradores e colocam cofres dentro dos ônibus. Muitos dos criminosos são usuários de drogas e roubam para comprar entorpecentes. Os criminosos costumam atuar em trio. “Um fica na parte da frente, outro no fundo e o terceiro saqueia os passageiros. Assim têm um bom campo de visão”.
Entramos em contato com algumas das empresas mais assaltadas (ver quadro), mas somente a BTU respondeu. Segundo o gerente João Barbosa, a empresa opera 50 linhas com cerca de 350 carros. “Os piores lugares são a Paralela, perto do Bairro da Paz e do Posto 2, e a Cardeal da Silva”. Ele não informou o prejuízo da BTU e disse que todos os ônibus têm câmeras.
Fonte: Correio da Bahia

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